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Foto do escritorCaio Paes de Freitas

Desvios Klínicos

Atualizado: 22 de nov. de 2021

Quando escrevemos Klínica com K queremos causar um deslocamento da atenção de quem lê, queremos com isso produzir um embaralhamento do próprio sentido de uma análise. Neste movimento trazemos para a klínica o sentido da palavra grega klinamen, que na física atomista de Epicuristas e Lucrécio designa o movimento aleatório de desvio (por mínimo que seja) que seria a fonte produtiva dos encontros entre os átomos, e que levaria a associação dessas partículas e a produção da novidade, da diferença. Em contraste com isso pode-se pensar o que seria um mundo sem estes deslocamentos moleculares e imprevisíveis, apenas uma repetição da ordem pré-estabelecida, aonde cada parte cumpre perfeitamente seu papel e portanto só pode haver repetição do mesmo e nunca criação da diferença. Em contraste com isso pode-se pesar: o que seria um mundo sem estes deslocamentos moleculares e imprevisíveis? Talvez penas, uma repetição da ordem pré-estabelecida, onde cada parte cumpre perfeitamente seu papel e portanto só pode haver repetição da mesma matriz Eu. Nunca diferença criadora.


Deleuze e Guattari


Aí está uma inflexão lógica importantíssima para uma esquizoanálise, a noção de que é nos desvios, nos momentos de fuga e ruptura, e porque não nos momentos de depressão, exaustão, entusiasmo, alegria, amor ou solidão (ou etc.etc.) que se encontra o potencial para a produção de um novo modo de vida capaz de reorganizar o próprio senso de eu e de mundo.

Falamos por uma klínica sempre produtiva que se articule no movimento constante de abandono do que não serve mais e conexão com aquilo que aumenta em nós a potência e o desejo. Por que para nós assim é o inconsciente, não apenas um quarto dos fundos onde guarda-se o que se reprimiu (ainda que haja um quarto nos fundos), mas vemos o inconsciente como uma força pulsátil, Viva, ativa, produtiva e corporal, o inconsciente deixa de ser meramente pessoal para ser transpessoal e infrasubjetivo, ou seja ele opera em termos parciais (fragmentos) que se articulam para criar e desfazer conexões de desejo. E é ao mesmo tempo que este plano molecular produz, os corpos registram e os sujeitos consomem a experiência. O inconsciente não está dentro das pessoas, mas é algo que se passa entre as coisas, um jogo dos encontros que os corpos vivem, sem álibi

Falamos por uma klínica dos encontros na qual podemos entender o corpo e o movimento como componentes sempre presentes nas experiencias, que trazem em si a marca dos afetos e sentimentos já vividos, independente do controle de um sujeito ou uma mente. Certa vez uma pensadora declarou que o corpo é ambiente do mundo, então tudo se passa por ele, através dele, seguimos esta aposta.


Desvio Clínico + Klínica com K

Sendo assim, uma esquizoanálise propõe uma reinvenção da prática analítica, entram em cena uma multiplicidade de fatores novos como por exemplo uma investigação corporal dos afetos, uma análise dos efeitos de uma cultura capitalista e de mercado na produção de um sujeito desde a infância, uma experimentação sem destino que dispare a produção de diferentes modos de existir. Não temos protocolos, não temos respostas prontas, nossa missão é descobrir sempre um pequeno pedaço da nova terra, nossa prática é criar sempre uma nova máquina, uma geringonça analítica que permita dar conta da singularidade de cada processo terapêutico.


Experimentação, Pulsação, Respiração, Vida, Corpo, Presença.


Quais nossas conexões? Conjunções? Disjunções? O que em nós repele? Onde é que foi possível se apaixonar pelo poder e pela certeza e esquecer da potência da criança? Da potência de brincadeira e invenção?

Uma esquizoanálise tem a potência de nos tirar das nossas tragédias pessoais e, fazendo da merda adubo, nos lançar rumo à aventura de revolucionária de viver a vida em estado de arte.

Caio Paes de Freitas | Esquizoanalista



Caminhos Clínica e Klínica
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