Muito se diz hoje em dia que “os tempos são outros”, mas para alguns os tempos não mudaram tanto. Apesar de importantes avanços na cultura sobre o respeito à diferença e à igualdade de direitos, a masculinidade rígida ainda resiste. As mulheres avançam conquistando cada vez mais espaço na sociedade, são mães, esposas, empresárias, pesquisadoras, artistas, cientistas, políticas, líderes e trabalhadoras, são o que elas quiserem ser. E os homens?
As mudanças culturais que vem acontecendo há algumas décadas retiram cada vez mais o homem do centro da sociedade. O modelo clássico de masculinidade está em declínio, é insustentável no século XXI; a masculinidade está em crise e os homens são convocados a se posicionar, inventar novas (e mais saudáveis) maneiras de serem homens.
O estereótipo do homem machão e cheio de testosterona, tão comum nos anos 1980 e 1990, herdeiro da criação rígida dos séculos XIX e XX, não encontra mais o mesmo lugar de destaque nos dias de hoje. Ainda assim muitos homens da atualidade conservam em seus hábitos resquícios deste modelo idealizado, o homem que não chora e não demonstra sentimentos, negligencia a própria saúde e os próprios sentimentos, se coloca como superior, inabalável e invencível, esquecendo-se de sua própria fragilidade, quase um super-homem. Enquanto as mulheres avançam na sociedade e aprendem a se reinventar para crescer, os homens parecem estar fixados em uma posição que os mantém estagnados enquanto o mundo continua a girar.
Na música “Porque Homem Não Chora” o cantor Pablo diz sobre este homem rígido, que não pede perdão e não dá lugar aos próprios sentimentos; quando toma uma decisão não voltar atrás. Um homem que pede por favor para a mulher não insistir, porque se ela insistir ele não vai conseguir conter as próprias lágrimas. Um homem que se esquiva da própria fragilidade para se defender da angústia que sente. Eis o homem clássico.
Em sua canção intitulada “Um Homem Também Chora”, Gonzaguinha diz sobre um outro lado da masculinidade, fala sobre um homem que sabe não ser auto suficiente, conhece suas necessidades e reconhece sua fragilidade, e por isso é forte. Apesar de guerreiro também é menino, mas não vive fixado em uma fantasia infantil de ser um sujeito inabalável e invencível. Ele sabe que viver e sonhar exigem trabalho e tem sua cota de sacrifício; também sabe que as angústias e castrações fazem parte da vida. Eis um homem mais maduro.
Ao se deparar com as mazelas da vida e se verem impotentes em alguma situação, é comum que os homens passem a se culpar e esconder seus sentimentos. Quando não podem mais negar suas dores, fingindo “estar tudo bem”, muitos começam a se punir; é como se estivessem afirmando “ser perfeito ou não ser nada”. Na impossibilidade de alcançar a perfeição, depressão e compulsões são saídas frequentes, caminhos que levam à destruição.
Reconhecer a própria fragilidade, cuidar de si, conhecer seus limites, permitir-se sentir e sonhar são algumas características que nos tornam mais humanos e maduros. Se é difícil para muitos homens admitirem que precisam de ajuda em algum aspecto das suas vidas, é necessário fazê-lo! Um homem também chora, abraça, diz “eu te amo”, também reconhece a própria impotência, fala sobre seus sentimentos, frustrações e desejos, e não é menos homem por causa disso. Ao contrário, se afirma enquanto homem quando se reconhece como sujeito que tem faltas e por isso tem desejos. Ao contrário do que diz Gonzaguinha no final de sua música, apesar das angústias e castrações, é possível ser feliz.
Gabriel Santos Passos | CRP 05/056243
Psicanalista | Psicólogo Clínico
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